Dos muitos desafios inerentes à tradução de livros, a tradução de gírias certamente é um dos maiores deles. Recurso linguístico de caráter idiomático, a gíria opera no plano não transparente do significado, ou seja, o tradutor, para depreender o sentido do(s) termo(s) a que a gíria remete, há de reconhecê-la como um código linguageiro, uma prática atrelada a certa(s) comunidade(s) discursiva(s), isto é, a certos grupos que partilham do mesmo estilo de vida, comportamento e sobretudo do mesmo posicionamento ideológico. Mas engana-se quem pensa que as gírias são uma prática restrita aos jovens, haja vista que diferentes grupos sociais (empresários, policiais, criminosos, músicos, internautas etc.) tendem a se comunicar por meio de um linguajar próprio que remete ao mundo e às práticas que apenas os que pertencem a esse determinado grupo são capazes de reconhecer. Mas se as gírias são essencialmente caracterizadas pela informalidade, tal como as expressões idiomáticas, o que (se algo) difere umas das outras?
Para responder a essa pergunta, nesse curso, considerando a efemeridade desse código linguageiro e a dificuldade que o tradutor não raramente depara ao tentar depreender o sentido de uma gíria, sobretudo porque encontra pouco material escrito disponível para a pesquisa desses termos, abordaremos a problemática de definição do fenômeno gírio, as técnicas e procedimentos de tradução que permitem identificá-la no texto e como encontrar subsídios e caminhos para as soluções mais apropriadas.